Os carros de Rui Barbosa
"Seu landau era na verdade uma carruagem, puxada por uma parelha de cavalos.
Assim também o coupé e o vitória. Este último, o preferido da família,
foi depois vendido e rodou muito, a aluguel, pelas ruas de Petrópolis,
onde fez fama por ter pertencido ao Conselheiro. Já o coupé era a alegria
da criançada. A neta de Rui, Lucila Batista Pereira, lembra como gostava
de brincar dentro dele, forrado de cetim cor de pérola. Mas Rui possuiu
também automóveis propriamente ditos. Teve um Ford bigode, com vidros,
disputado pelos netos, que, em Petrópolis, à noite, tiravam-no da garagem,
sem ligar o motor, empurrando-o pela rua, até o posto de gasolina, onde
enchiam o tanque, por conta de Rui. Quando Maria Augusta descobriu, proibiu
esses passeios. Seu carro mais famoso foi um Daimler Benz com oito cilindros,
capaz de desenvolver aproximadamente 80 km/h, fabricado na Alemanha em
1903. Conta-se que o carro teria sido fabricado para o Kaiser Guilherme
II, que o doara ao Marechal Hermes da Fonseca, e que este o vendera a
Joaquim Pereira Teixeira, por não poder retirá-lo da alfândega. Bianor
de Lamare, filho do primeiro proprietário, desmentiu esta versão. Seu
pai, Joaquim de Lamare, industrial e grande admirador de automóveis, o
adquiriu através da firma Steinberg & Meyer, representantes da fábrica
Benz no Brasil. Por problemas financeiros, ele o vendeu a Joaquim Pereira
Teixeira, deputado federal pela Bahia, que o ofereceu ao casal amigo Rui
Barbosa. Rui devolveu o carro duas ou três vezes, até que Joaquim o ofereceu
a Maria Augusta. Sua placa era 833 e foi um dos poucos automóveis de alto
luxo a percorrer as ruas do Rio de Janeiro do princípio do século. Exposto
na garagem em companhia de duas das carruagens, é uma das peças de maior
valor do museu da Fundação Casa de Rui Barbosa. Carlos Drummond de Andrade,
numa crônica, chamou-o de 'um monstro de rodas, uma catedral negra' e
Orígines Lessa o imortalizou no livro Assim falou o 833: revelações de
um carro de Rui Barbosa, publicado pela editora Salamandra em 1983." Rejane
M. M. A. Magalhães. Rui Barbosa na Vila Maria Augusta.
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