1918
Lançamento de Urupês,
livro de contos considerado a obra-prima
do escritor e um clássico da literatura
brasileira. 18/3/1918 Lobato
inicia, no jornal O Estado de S. Paulo,
a série de artigos sobre saúde pública
e saneamento, reunidos posteriormente no
livro Problema Vital, publicado no
final do ano. Num deles escreve a
respeito do Jeca Tatu, criado quatro anos
antes: "Está provado que tens no
sangue e nas tripas um jardim zoológico
da pior espécie. (...) É essa bicharia
cruel que te faz papudo, feio, molenga,
inerte". Concluindo que "o
caipira não é assim" mas
"está assim", Lobato
redefine, num tom diametralmente oposto
ao dos artigos de 1914, "Urupês"
e "Uma velha praga", o
perfil de seu personagem: indolente não
pela sua natureza genética ou racial,
mas sim pela falta de condições de
higiene e saúde. Nascia o segundo Jeca.
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Junho
de 1918 - Lobato compra a Revista
do Brasil e, paralelamente à
sua redação, desenvolve uma seção
editorial onde terão início atividades
que revolucionariam a produção do livro
no país. 4/6/1918 - No diário
coletivo de sua garçonnière da
rua Líbero Badaró, Oswald de Andrade
registrou: "Lobato esteve aqui e
esqueceu as provas dos seus Urupês sobre
o sofá. A Cyclone [Maria de Lurdes
Castro, que viria a se casar com Oswald],
muito pimpona, atribuiu à sua
influência desnorteadora esse gesto do
nosso homem do dia. Lobato, defenda-se ou
confesse que tomou Cyclomol."
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"Os Urupês
vão se vendendo melhor do que esperei, e neste
andar tenho de vir com a segunda edição dentro
de três ou quatro semanas. Há livrarias que no
espaço duma semana repetiram o pedido três
vezes (...). O Saci-Pererê também se vende bem;
estou já só com um resto - talvez um quarto da
2ª edição. (...) A alta do papel impede-me de
lucros maiores na Revista [do Brasil] e nos
livros; mesmo assim, cada milheiro deixa líquido
um conto e tanto... quando não encalha. A mim me
favoreceu muito aquela campanha pró-saneamento
que fiz pelo Estado. Popularizou muito a marca
'Monteiro Lobato'." São Paulo, 8/7/1918.
"Vou editar
o Ricardo [Gonçalves] em setembro - Ipês.
Já temos, paridos pelo prelo, o [José Antonio]
Nogueira e eu; saindo você e o Ricardo, restará
em estado interessante só o Albino [Camargo] com
seu tratado de psicologia. E o Cenáculo terá
vencido, hein? (...) Meu mal é curioso, Rangel.
Excesso de chance. Tudo me sai
sorteado." São Paulo, 29/8/1918.
Outubro de 1918 A gripe espanhola faz
milhares de vítimas no Brasil. Só em São Paulo
morrem 8 mil pessoas.
11/11/1918 Armistício assinado entre a
Alemanha e os países aliados põe fim à
Primeira Guerra Mundial.
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"Fechei
neste momento um romance de Lima Barreto,
Isaías Caminha. É dos tais
legíveis de cabo a rabo. Romancista de
verdade. Amanhã vou assinar com ele
contrato para a edição dum livro novo, Vida
e morte de M. J. Gonzaga de Sá,
cujos originais já estão aqui. A letra
é infamérrima e irregularíssima. Há
trechos em que o autor positivamente
cambaleia, e outros em que pára para
'destripar o mico'. Mas quanto talento e
do bom!" São Paulo, 24/11/1918. 1919 Rutherford
divide o átomo; em Weimar, Alemanha, é
fundada a Bauhaus, escola de arquitetura
e artes aplicadas.
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1919
Lançamento de Cidades Mortas e Idéias
de Jeca Tatu. No primeiro, Lobato reuniu
escritos do tempo de estudante a textos que
retratam a decadência das outrora ricas regiões
cafeeiras. No segundo, está compilada sua
produção de crítica literária e de arte.
"A Revista
[do Brasil] cresce e engorda como bananeira, e a
seção das edições toma corpo." São
Paulo, 20/2/1919.
"Já temos
oficinas próprias e problemas operários. (...)
O próximo número da Revista [do Brasil] já
será impresso em nossas oficinas, com tintas
nossas, tipos nossos - e verás como melhorará
de fatura." São Paulo, 4/3/1919.
5/3/1919
Associado à Olegário Ribeiro & Cia., Lobato
forma a Olegário Ribeiro, Lobato & Cia.,
mas a sociedade editora dura apenas alguns meses.
20/3/1919 Em
discurso proferido no Teatro Lírico do
Rio de Janeiro, Rui Barbosa faz longa
referência ao Jeca Tatu. Com isso,
rapidamente se esgota a terceira edição
de Urupês. "Acaba de
fazer um ano que comprei a Revista do
Brasil. (...) Entre as coisas futuras
projetadas está uma seção argentina,
para lançar coisas nossas, traduzidas,
no mercado de língua espanhola, que é
grande. Estamos estudando a nossa
associação com a Cooperativa Editorial
Argentina e uma agência de publicidade.
Iniciaremos a série com Alencar e outros
artigos já em domínio público, dando
simultaneamente uma edição em
português e outra em espanhol. Os bons
livros brasileiros encontram grande
saída em espanhol." 6/7/1919.
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1920
Lançamento de Negrinha. Segundo Lobato,
"filhote de livro (...) para fazer uma
experiência: se vale mais a pena lançar
livros inteirosa 4 mil réis ou
meios livrosa 2$500".
Março de 1920 -
Estréia em São Paulo a adaptação
cinematográfica do conto Os Faroleiros,
produzido pela Sociedade de Cultura Artística
Romeiros do Progresso. Direção de Antônio
Leite, com Antônio Latari e Clarinda Lopes.
"Faço
livros e vendo-os porque há mercado para a
mercadoria; exatamente o negócio do que faz
vassouras e vende-as, do que faz chouriços e
vende-os. (...) O público - o respeitável
público dos circos de cavalinhos - merece um
pouco de atenção. Porque afinal de contas,
Rangel, é o público que marcha com os
cobres." São Paulo, 17/1/1920.
"O triunfo
das nossas edições está excedendo aos meus
cálculos; desde janeiro, 12 mil volumes
vendidos: 4 mil Cidades Mortas, 4 mil Idéias de
Jeca [Tatu], 3 mil Urupês e mil Jeremias. (...)
Estão a sair Sem Crime, de Papi Júnior, (...);
Madame Pommery, uma obra prima de sátira
bordelenga, do Toledo Malta ou 'Hilário
Tácito': Tácito, porque aquilo é história, e
Hilário porque é história alegre. (...) Ando a
colaborar no Correio da Manhã e tive convite d'O
Jornal [ambos do Rio de Janeiro]. Cinqüenta mil
réis o artigo." São Paulo, 23/3/1920.
31/5/1920
A revista Papel e Tinta, em
seu primeiro número, publica entrevista
de Oswald de Andrade com Monteiro Lobato. Junho de 1920
Associado a Octalles Marcondes
Ferreira, Lobato funda a editora Monteiro
Lobato & Cia.
Natal de
1920 Lançamento de A menina do
narizinho arrebitado, com capa
ilustrada e cartonada, formato 29 X 22
cm., 43 páginas e desenhos coloridos de
Voltolino, primeira obra de Monteiro
Lobato para as crianças.
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1921 - Urupês é
lançado na Argentina, em tradução de
Benjamin de Garay. A revista A Novela
Nacional, da Sociedade Editora
Olegário Ribeiro, publica Os Negros ou
Ele e o Outro, "novela-cine
romântica, com pios de coruja, noite
tempestuosa, mortes trágicas e outros
ingredientes; leitura perigosa às
meninas histéricas e aos velhos
cardíacos que crêem em almas do outro
mundo." Lançamento de A Onda
Verde, volume que reúne a produção
jornalística de Lobato sobre as novas
áreas onde o café está em ascensão, e
de Fábulas de Narizinho, para as
crianças. |
Abril de 1921
Lançamento de O Saci, seguido de Narizinho
arrebitado, edição de A menina do narizinho
arrebitado acrescida de histórias inéditas, 181
páginas, em tiragem de 50 mil exemplares e
adotada pelo governo de São Paulo para a rede
escolar.
2/5/1921 -
Monteiro Lobato inicia colaboração na Novela
Semanal, revista literária dirigida por
Breno Ferraz, lançada pela Sociedade Editora
Olegário Ribeiro.
16/5/1921 - La
Novela Semanal, de Buenos Aires, publica Alma
Negra, versão de Negrinha em espanhol.
"Recebi o
Urupês em espanhol lançado na Argentina. Bela
edição. (...) Nos Estados Unidos quer
traduzi-lo Isaac Goldberg. E em França, um
Julien Fauvel. Livro de sorte." São Paulo,
junho de 1921.
17/9/1921
Lobato recusa-se a editar Paulicéia
Desvairada, livro em que Mario de Andrade
lança as diretrizes estéticas do modernismo.
1922 Com a Marcha sobre Roma, Mussolini
chega ao poder na Itália. Vladimir K. Zworykin
patenteia o iconoscópio, invento que tornaria
possível o advento da televisão.
1922
Lançamento de O marquês de Rabicó e
Fábulas, livro também aprovado pela
Diretoria de Instrução Pública do Estado de
São Paulo para uso didático.
Lobato aceita
concorrer à cadeira n.º 11 da Academia
Brasileira de Letras, vaga com a morte de Pedro
Lessa. Nos EUA, Isaac Golberg dedica um capítulo
à análise da obra de Monteiro Lobato em Brazilian
Literature.
No
rastro da Semana de Arte Moderna,
realizada entre 13 e 15/2/1922 no Teatro
Municipal de São Paulo, Lobato inclui no
rol dos autores por ele editados alguns
de seus protagonistas: Oswald de Andrade,
com Os condenados, e Menotti del
Picchia, com O homem e a morte.
Detalhe: ambos com capa de autoria de
Anita Malfatti. "Mudamo-nos para a
rua S. Efigênia 3-A - um grande armazém
térreo onde adquirimos a feição normal
dos grandes negociantes de cebolas.
Vendemos cebolas literárias. (...)
Adeus, rua Boa Vista 52 onde comecei como
um espermatozoário! Adeus, salinha de
xadrez (...). Aquilo ainda era 'arte'.
Aqui na Santa Efigênia já somos só
cebolas. O 'Monteiro Lobato & Cia'
está chegando ao fim. De repente viramos
sociedade anônima ou qualquer coisa
limitada, e pronto..." São Paulo,
25/1/1922.
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"A
idéia da Academia [Brasileira de Letras]
falhou por birra minha. Não quis
transigir com a praxe lá - a tal praxe
de implorar votos, e eles são
extremamente suscetíveis nesse ponto.
(...) Ora, não há gosto em fazer parte
de um grêmio de mentalidade assim e não
pedi nada a ninguém; fiz mais: mandei
outra carta desistindo da minha
candidatura (...)." São Paulo,
15/2/1922. 25/3/1922 É fundado
o Partido Comunista do Brasil.
5/7/1922 Rebelião
tenentista sacode os quartéis do Rio de
Janeiro, episódio que ficou conhecido
como os 18 do Forte de Copacabana.
Dezembro
de 1922 A Monteiro Lobato &
Cia. amplia sua participação
societária. Lobato e Octalles M.
Ferreira ganham nove sócios: Martinho
Prado, José Carlos de Macedo Soares,
Paulo Prado, Alberto Seabra e Alfredo
Machado, Heitor de Morais, Renato Maia,
Alfredo Costa e José Antonio Nogueira.
1923 A General Motors
torna-se a maior companhia industrial do
mundo.
1923
Lançamento de O macaco que se
fez homem, O mundo da lua e Contos
Escolhidos, adotado em
estabelecimentos de ensino.
Sob o
título El comprador de haciendas,
uma coletânea de contos de Lobato é
lançada na Espanha, em tradução de
Benjamin de Garay.
20/4/1923 É fundada
a Rádio Sociedade do Rio de Janeiro,
primeira emissora de radiodifusão do
Brasil.
Junho de
1923 Em carta a Lobato, Oswald de
Andrade noticia conferência que fez na
mais prestigiada universidade francesa
Jeca Tatu na Sorbonne,
ironiza a ser publicada na
Revue de lAmerique Latine.
"(...)
meti-me em automobilismo. Comprei um Ford
e já ando a perturbar o trânsito da
cidade. Ontem dei o primeiro tranco numa
carroça, mas ainda não esmaguei nenhum
pedestre. Curiosa a mudança de
mentalidade que o automóvel ocasiona. O
pedestre passa a ser uma raça vil e
desprezível, cuja única função é
atravessar as ruas. Quem adquire auto
promove-se de 'pedestre' a 'rodante' - e
passa a desprezar os miseráveis
pedestres que se arrastam pelas
superfícies, como lagartas." São
Paulo, 10/9/1923.
"A
vendagem dos livros tem caído; todos os
livreiros se queixam - mas o público tem
razão. Câmbio infame, aperto geral,
vida cara. Não há sobras nos
orçamentos para a compra dessa absoluta
inutilidade chamada 'livro'. Primo
vivere. (...) Estamos refreando as
edições literárias para
intensificação das escolares. O bom
negócio é o didático." São
Paulo, 1/12/1923.
1924 -
Lançamento de A caçada da onça
e de Jeca Tatuzinho, ilustrado por
Kurt Wiese, em que o personagem-símbolo
criado por Lobato ensina noções de
higiene e saneamento às crianças.
Edição do O garimpeiro do Rio das
Garças, também ilustrado por Wiese,
num formato muito próximo ao das
histórias em quadrinhos. Chega ao
mercado argentino a coletânea de contos Los
ojos que sangran, traduzidos por B.
Sanchez-Saez.
Abril de
1924 - A revista Lecturas, de
Buenos Aires, publica Barba Azul,
conto de Negrinha traduzido por B.
Sanchez-Saez.
Na rua
Brigadeiro Machado, no Brás, em prédio
com cinco mil metros quadrados, Lobato
monta o maior parque gráfico da América
Latina. Para dar suporte ao projeto de
expansão, a Monteiro Lobato &
Cia. transforma-se, em maio desse
ano, na Companhia Gráfico-Editora
Monteiro Lobato, sociedade anônima
presidida por José Carlos de Macedo
Soares que reunia a nata da classe
dirigente paulistana.
5/7/1924 Sob o
comando do general Isidoro Dias Lopes, os
tenentes tomam São Paulo. O governador
Carlos de Campos abandona a cidade.
A
revolução desorganiza
a vida econômica paulistana e
paralisa as atividades da editora
de Lobato por dois meses. Após a
retirada dos rebeldes a 27 de
julho, |
o governo de Artur
Bernardes inicia uma série de
ações repressivas, entre as
quais a prisão de Macedo Soares,
presidente da Cia.
Gráfico-Editora Monteiro Lobato,
em 4 de agosto, acusado de
ligações com os tenentes. 9/8/1924
No dia do aniversário de
Bernardes, Lobato envia carta ao
presidente onde faz um balanço
dos acontecimentos e discute o
sistema eleitoral vigente.
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Com
o título O voto secreto,
o texto transforma-se num
panfleto, largamente
distribuído. Artur Bernardes
reage e manda suspender todas as
encomendas de livros escolares
que a Cia Gráfico-Editora
imprimia e distribuía. Setembro
de 1924 - A Revue de
L'Amerique Latine, n.º 33,
editada em Paris, publica o conto
A vingança da peroba,
extraído de Urupês e traduzido
por G. Le Gentil.
Final
de 1924/início de 1925 - A
saúde financeira da Cia.
Gráfico-Editora Monteiro Lobato
está abalada pelas dívidas
contraídas para importação de
maquinário e a empresa sofre os
efeitos da seca que castigava
São Paulo, reduzindo
drasticamente o fornecimento de
energia elétrica. Uma súbita
mudança na política econômica
do governo Bernardes desvaloriza
a moeda e suspende o redesconto
de títulos pelo Banco do Brasil.
A editora de Lobato entre em
crise terminal.
1925 Adolf
Hitler publica Mein Kampf
(Minha luta).
1925
- Sob encomenda do Laboratório
Fontoura, Monteiro Lobato adapta Jeca
Tatuzinho para promoção de
seus produtos, em especial do
Biotônico. Por ocasião do
centenário do escritor, em 1982,
esse folheto ultrapassaria a
marca dos 100 milhões de
exemplares.
Traduzidos
por Isaac Goldberg, quatro contos
de Lobato são editados nos
Estados Unidos com o título Brazilian
Short Stories, volume n.º
733 da série Little Blue Book.
"Estou
a examinar os contos de Grimm
dados pelo Garnier. Pobres
crianças brasileiras! Que
traduções galegais! Temos de
refazer tudo isso - abrasileirar
a linguagem." São Paulo,
11/1/1925.
Maio
de 1925 Sai o último
número da Revista do Brasil,
depois de 113 edições mensais
ininterruptas. Adquirida por
Assis Chateaubriand, só voltaria
a circular em setembro do ano
seguinte.
Junho
de 1925 - A Revue de
L'Amerique Latine, n.º 42,
publica o conto Um suplício
moderno, de Urupês, em
tradução de Sérgio Milliet.
24/7/1925
Monteiro Lobato e o
jurista Waldemar Ferreira dão
entrada no requerimento de
autofalência da Companhia
Gráfico-Editora e tem
início o processo de
liqüidação que se estenderia
por dois anos.
15/09/1925
Realiza-se no Rio de
Janeiro a assembléia de
constituição da Companhia
Editora Nacional, com nove
sócios, entre eles Octalles
Marcondes Ferreira. Embora à
frente do empreendimento desde o
início, o nome de Lobato só
figurará entre os sócios no
final de 1926, época da
transferência da matriz da
editora para São Paulo.
Outubro
de 1925 Em edição de
três mil exemplares, a Companhia
Editora Nacional estréia no
mercado com Meu cativeiro
entre os selvagens do Brasil,
com as narrativas de Hans Staden,
náufrago alemão que em 1550 foi
aprisionado pelos tupinambá.
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